LAMA GELEK: Certamente, há passos a fazer e treinamentos a serem praticados. Primeiro é importante que se verifique o que a gente realmente quer. Ainda queremos ganhar? A gente quer simplesmente estar com a razão? Se sim, a gente vai simplesmente continuar sendo a vítima do que está acontecendo no mundo a nossa volta.
Enquanto estivermos apontando o dedo, a gente não vai conseguir usar a energia da emoção. Primeiro a gente vai ter que assumir a responsabilidade e ver que a emoção acontece na nossa mente. E aí quando a gente para de nutrir essa emoção, podemos trazer elementos novos à nossa mente que ajudam a nos fortalecer e sair desse estado de desamparo. Nós trazemos mais aspectos de sabedoria, por exemplo, sabendo que a emoção não pode permanecer para sempre. Ela é impermanente e vai passar se pararmos de nutri-la. No final das contas, dizem que a gente pode até aprender com as emoções, mesmo com a raiva. Parece maluquice!
LAMA TILMANN: Enquanto você explicava, eu estava me lembrando o quanto aprendi com as emoções fortes que tinha e tenho. Então a chave, de novo, é ficar consciente. Eu costumava ficar bravo muito facilmente. E a primeira coisa que tive que aprender é a parar, sem reagir impulsivamente. Isso eu tive que aprender em relação a todas as emoções: primeiro fique e dedique um tempo a estar consciente.
O segundo passo é definir que direção você quer seguir que seja positiva; não se deixar ser arrastado pela situação, pelo próximo desejo ou raiva. E aprendi também que minhas emoções dependem muito de que ponto de vista eu assumia. Parte do meu treinamento budista é ser capaz de assumir diferentes pontos de vista. Normalmente, há mais de uma pessoa envolvida na história (ou várias). Então é importante ter essa capacidade de assumir o ponto de vista delas. Com esse exercício de assumir os diferentes pontos de vista fica claro que a emoção nunca foi algo sólido.
Então uma grande coisa que podemos aprender é que as emoções não são inimigas. São simplesmente manifestações de uma energia que se tornou um pouco bloqueada, um pouco espremida. E quando mudamos para outros pontos de vista elas voltam a fluir. Por exemplo, se você simplesmente permanecer com suas sensações corporais, físicas, você já muda o seu ponto de vista.
Finalmente, a gente pode olhar diretamente para a emoção que surge e nos darmos conta de que ela é inapreensível, que ela não é nada por si própria. Eu gostaria de perguntar para você: por quanto tempo dura uma emoção? Eu sei que você não pode responder agora, mas uma emoção só perdura pelo tempo que nos apegarmos a ela.
Este texto é uma transcrição de uma série de perguntas e respostas realizada no retiro de Transmissão do Mahamudra, em 2018, em Brasília, pelos Lamas Gelek e Tilmann.
O video está disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=s5RRuPm9vh4
Transcrição de Alexandre Mantovani e revisão de Elisabeth Oliveira em agosto de 2018.