Encontro com o Lama Gelek em Brasília no dia 13 de novembro de 2018.
“Quando olhamos com olho de sabedoria, nós vemos que não somos nada; quando vemos com olho de compaixão, nós vemos que somos tudo.”
Você pode baixar o audio dos ensinamentos nesse link.
Alguns dos tópicos abordados:
*Pergunta: Quando a gente começa a olhar para dentro, a se trabalhar, começamos a descobrir um monte de coisas que estavam lá e nem sabíamos. Mas a gente poderia dizer que não está lá, que é tudo movimento. Mas as coisas estão lá!
As coisas não sobem porque nós deixamos as coisas em estado de repressão. Isso é uma forma de dissociação. Achar que alguém vai te salvar ou alguém é responsável pelo mal da sua vida são estados mentais onde tem repressão – reprime em você e só enxerga em outras pessoas.
*Pergunta: E quando o que está vindo é raiva? É melhor deixar subir a raiva?
Imagina que você é uma casa grande. Se a raiva encontra qualquer coisa – um prato, um objeto nessa casa, ela vai agarrar e destruir. Então imagina que você tira todas as coisas dessa casa. Quando vem a raiva , acolha-a no seu corpo e imagine-a como um homenzinho de cara feia. Ele corre pela casa para achar algo para destruir, mas como a casa está vazia, você deixa ele circular. Você começa a entender como acolher a intensidade de uma emoção. Quanto mais você usa seu corpo para acolher a emoção, menos você vai reagir sobre a emoção.
A raiva vai te ensinar sobre respeito – sobre aquilo que você é e aquilo que você é capaz de fazer. Por isso temos que aprender a colocar limites, mas sem entrar na briga.
*Pergunta: E como lidar com a libido?
É o mesmo princípio, mas com coisas boas, com desejo, é mais delicado. Porque nós desejamos coisas boas e podemos confundir valorização com desejo. Valorização é um estado de riqueza; desejo é carência. A valorização é alegrar-se com as qualidades da pessoa. Mas isso facilmente pode cair em carência; em você querer grudar na pessoa para pegar um pouco do brilho dela. Isso não funciona.
Como fazer isso? Usa o corpo. Não só para se esfregar, mas para acolher a energia. Normalmente quando tem desejo você concentra a energia. Então usa o corpo para carregar a energia, agregá-la, mas deixa ela circular, no movimento. Relaxa os músculos, respira. Quanto mais contato, mais a energia se refina e fica sutil. Assim você acompanha mais o processo ao invés de querer ter algo. Normalmente a gente opta pelo orgasmo e faz tudo para chegar lá e normalmente você perde. Mas quando tem troca, você nem precisa de uma energia tão agitada, fica mais na comunicação.
* Pergunta: Querer liberar a raiva também pode ser uma forma de aversão, não é?
Imagina que você vai ter sempre raiva. Veja a resistência. Depois imagina que você nunca mais vai ter raiva. Veja a resistência, o querer ter raiva, ter esse poder.
*Pergunta: Como podemos embarcar menos nas histórias?
Tentar apagar uma história não funciona. A dica é vivenciar a história, mas sem contar a história. Isso faz toda a diferença. Quando a gente conta a história, nós vamos acordar tendências de muitas gerações. Quando você escuta a história, ela limita seu sentimento. Quando você vive a história, os sentimentos sobem.
Quando você não sabe como reagir, sente seu peso na terra, a plenitude desse momento.
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Cinco Skandas
Skandas são constituintes, agregados, empilhamentos. A ideia é entender que as aparências não são coisas, que elas não existem por si mesmas.
Quando está todo mundo no caminho mais fácil, apontando: olha só, o mal está ali. Na verdade essa ‘pilha’ é constituída de várias coisas.
Tem também o medo, que a gente não trabalhou, estamos nos vitimizando perante uma pessoa, uma aparência. Nós precisamos enxergar as dinâmicas que estão acontecendo; não as aparências. Nós podemos usar o espaço da nossa mente para cultivar estados mentais que são benéficos.
Podemos perguntar: onde para o eu e o outro começa? Onde é a divisão entre mim e os outros?
Você pode ver através do tempo. Alguns anos atrás você não tinha esse corpo; antes da concepção, quem era você? E no futuro, quem será você? Quando você começou? O que você vai ser depois, quando você morrer?
Você olha no tempo e você só vê mudança. O que você vai enxergar é a interdependência. Cada momento é conectado com cada molécula, cada átomo, não tem nada solto. Não tem nada que foge dessa rede.
Quando olhamos com olho de sabedoria, nós vemos que não somos nada; quando vemos com olho de compaixão, nós vemos que somos tudo.